O que o Papa Francisco REALMENTE ensina às famílias na Encíclica Laudato Si


Aos ensinamentos de fé e moral do Papa devemos assentimento. Não sendo dogmas, porém, ainda que sejam de fé e moral tais ensinos, podemos, se temos condição para tal, e com a reverência devida, discordar, o que é um caso raríssimo de ocorrer. Todavia, quando alguém, mesmo um Papa, se expressa sobre assuntos que fogem de seu múnus - ou seja, que são de direito, economia, biologia, não de fé e moral -, devemos, mantendo o mesmo respeito para com o Santo Padre, averiguar se o que ele diz é condizente com a realidade de tais ciências ou campos de estudo.

Muito a mídia tem enfocado, a partir da nova Encíclica Laudato Si, de Sua Santidade, o Papa Francisco, nas questões não-religiosas, como a adesão do Romano Pontífice à teoria do aquecimento global. Por conta disso, o que vemos nos jornais, em geral, são notícias que ou bem reduzem o rico conteúdo da encíclica à pregação ecológica ou bem distorcem o ensino de Francisco transformando-o em um hippie do séc. XXI. 

Não nego que possa haver problemas na nova carta do Papa quando Francisco está escrevendo fora de seu múnus. Mas e daí? Por estar errado, merece o Papa nosso repúdio? Não se pode discordar com desrespeito e insubmissão do Doce Cristo na Terra - expressão de Santa Catarina de Sena, a mesma que muitos invocam como modelo de legítima resistência a Papas fracos ou maus. 

Até mesmo porque há má vontade generalizada - talvez até por culpa, inconsciente que seja, do próprio Papa, com seus improvisos em entrevistas e algumas expressões mal colocadas - em ler o que ele escreve e ouvir o que ele fala. O Papa, caríssimos, é o Papa, é o Vigário de Cristo. Não se pode ser católico sem ouvi-lo e sem estar profundamente unido a ele, mesmo que, fora de seu Magistério, diga coisas das quais possamos legitimamente discordar. É mister, contudo, ouvi-lo primeiro.


E a Laudato Si, a despeito da distorção de uma parte dos meios de comunicação e do enfoque de outra parte apenas naquilo que parece "casar" com o pensamento política e ecologicamente correto, possui muitos e ricos ensinamentos cristãos. E todos eles vão na contramão exatamente do pensamento política e ecologicamente correto. Será por isso que jornais, revistas, blogs, rádios e televisões fecham os olhos para esses pontos duros para os mundanos?

Vejamos o que Francisco diz, especialmente às famílias, e que deve servir de alento aos pais e mães católicos, e motivo de rasgar de vestes dos gayzistas, antinatalistas e ecologistas radicais:

1. Francisco condena a ideologia de gênero na Encíclica Laudato Si. Exatamente! O Papa fala que homem é homem e mulher é mulher, e as diferenças sexuais entre eles - e só eles - são uma bênção. Não existe um gênero socialmente construído. O sexo é um dado da biologia, e foi instituído por Deus desse modo para a complementaridade da raça humana. 

"A aceitação do próprio corpo como dom de Deus é necessária para acolher e aceitar o mundo inteiro como dom do Pai e casa comum; pelo contrário, uma lógica de domínio sobre o próprio corpo transforma-se numa lógica, por vezes subtil, de domínio sobre a criação. Aprender a aceitar o próprio corpo, a cuidar dele e a respeitar os seus significados é essencial para uma verdadeira ecologia humana. Também é necessário ter apreço pelo próprio corpo na sua feminilidade ou masculinidade, para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o outro que é diferente. Assim, é possível aceitar com alegria o dom específico do outro ou da outra, obra de Deus criador, e enriquecer-se mutuamente. Portanto, não é salutar um comportamento que pretenda «cancelar a diferença sexual, porque já não sabe confrontar-se com ela»." (LS, 155)

2. Francisco condena os que pregam o controle de natalidade como solução para crise de recursos mundiais. Os governos, a ONU, organizações abortistas, maioria esmagadora dos médicos, sociólogos e cientistas políticos indica o controle da natalidade, o uso disseminado da camisinha e da pílula anticoncepcional como uma ferramenta para que as pessoas tenham mais acesso aos recursos do planeta, à comida, à água. Fomentam o mito da superpopulação, dizem que a Terra não aguentará se continuarmos tendo filhos, se aumentarmos nossa reprodução, que não há espaço, nem alimento, nem água, nem energia para todos. O "Francisco da mídia" nem toca nesse assunto, pois é um ecologista radical. O Francisco real, sem embargo, prega firmemente contra essa tendência mundana e secularizante.

"Em vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas económicas a determinadas políticas de «saúde reprodutiva». Mas, «se é verdade que a desigual distribuição da população e dos recursos disponíveis cria obstáculos ao desenvolvimento e ao uso sustentável do ambiente, deve-se reconhecer que o crescimento demográfico é plenamente compatível com um desenvolvimento integral e solidário». Culpar o incremento demográfico em vez do consumismo exacerbado e selectivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas." (LS, 50)


3. Francisco condena a teoria de que todos os seres vivos são iguais em dignidade e o ensino moderno de que o planeta e a Criação são como que divinizados, no sentido panteísta. O Papa fala duramente contra essas bobagens da moda de que animais e homens são iguais, que todos têm direitos, que se deve respeitar um cachorro da mesma forma que uma pessoa, e que a Terra é uma parcela da divindade. As palavras do Santo Padre são certeiras e motivam as famílias em sua responsabilidade por criarem seus filhos a partir de uma dignidade humana que é superior à dos animais, sem descuidar de que, como criaturas de Deus, também eles, os bichos devem ser respeitados - ainda que inferiores.

"As criaturas deste mundo não podem ser consideradas um bem sem dono: «Todas são tuas, ó Senhor, que amas a vida» (Sab 11, 26). Isto gera a convicção de que nós e todos os seres do universo, sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde. Quero lembrar que «Deus uniu-nos tão estreitamente ao mundo que nos rodeia, que a desertificação do solo é como uma doença para cada um, e podemos lamentar a extinção de uma espécie como se fosse uma mutilação».

Isto não significa igualar todos os seres vivos e tirar ao ser humano aquele seu valor peculiar que, simultaneamente, implica uma tremenda responsabilidade. Também não requer uma divinização da terra, que nos privaria da nossa vocação de colaborar com ela e proteger a sua fragilidade. Estas concepções acabariam por criar novos desequilíbrios, na tentativa de fugir da realidade que nos interpela.[68] Às vezes nota-se a obsessão de negar qualquer preeminência à pessoa humana, conduzindo-se uma luta em prol das outras espécies que não se vê na hora de defender igual dignidade entre os seres humanos. Devemos, certamente, ter a preocupação de que os outros seres vivos não sejam tratados de forma irresponsável, mas deveriam indignar-nos sobretudo as enormes desigualdades que existem entre nós, porque continuamos a tolerar que alguns se considerem mais dignos do que outros. Deixamos de notar que alguns se arrastam numa miséria degradante, sem possibilidades reais de melhoria, enquanto outros não sabem sequer que fazer ao que têm, ostentam vaidosamente uma suposta superioridade e deixam atrás de si um nível de desperdício tal que seria impossível generalizar sem destruir o planeta. Na prática, continuamos a admitir que alguns se sintam mais humanos que outros, como se tivessem nascido com maiores direitos." (LS, 89-90)



4. Francisco afirma que não se pode respeitar a natureza sem respeitar os nascituros. Uma "porrada" do Santo Padre bem no estômago da sociedade hedonista atual, a mesma que louva o Papa como se fosse uma novidade para a Igreja - quer porque não entendeu Francisco, quer porque se aproveita de algum deslize, natural para qualquer ser humano, que ele tenha cometido em suas improvisadas entrevistas de avião. Não, senhores, não se pode defender os animais, as florestas e os rios e ao mesmo tempo ser favorável ao aborto. 

"Uma vez que tudo está relacionado, também não é compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá protecção a um embrião humano ainda que a sua chegada seja causa de incómodos e dificuldades: «Se se perde a sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras formas de acolhimento úteis à vida social»." (LS, 120)

Ouçamos o Papa. Ele é o Chefe da Igreja e tem uma palavra a cada um de nós. É fácil ser corajoso para denunciar seus tropeços, como católicos, em nome da Tradição. Precisamos ser corajosos igualmente para promover o verdadeiro Magistério de Francisco na sua encíclica, na contramão do mundo - e dos Boffs e Bettos - que querem o Papa para chamar de seu.

Famílias católicas, é essa a nossa missão: ouvir o Papa, ler a Laudato Si e tirar os bons ensinamentos nela contidos como a expressão do que o Espírito Santo quer nos dizer. Como pais e mães, reafirmemos, COM O PAPA, que o aborto e o controle da natalidade não são a solução para nada, que o ser humano é superior aos animais e plantas e está no centro de uma sadia ecologia, e que a base da sociedade é a família a partir do casamento entre um homem e uma mulher.

Rafael Vitola Brodbeck

3 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, Rafael!
Sua postagem foi inundada de sabedoria. Você escreveu cada palavra em nome do Bom Deus. Não quero que se envaideça. Nunca! Mas que continue buscando a luz o Espírito Santo para comunicar e especialmente fazer com que tantos possam compreender a ação da Mão de Deus sobre nossa Igreja e sobre o nosso Papa. Que mesmo um escândalo não seria um motivo para criticá-lo, pois as escolhas de Deus devem ser respeitadas e amadas. Deus não abandona Sua Igreja e podemos perceber isso na sua bela interpretação desses pontos da Laudato Si.
Obrigada por essa partilha.
Deus abençoe sua família.

Mariana Anrain Andreis disse...

Maravilhosa explicação! Obrigada!

Fabiana Galdino disse...

Que bom achar esse espaço. Que bom partilhar de tuas reflexões. Muito grata!!
Siga "salgando" e iluminando essa terra virtual, tão carente das marcas do Senhor! Paz de Cristo!

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